terça-feira

O DIA DO ACIDENTE: O DIA EM QUE A MINHA VIDA MUDOU




Há vários tipos de OI (Osteogénese Imperfeita), que vão desde as formas mais leves da doença até às formas mais graves, por vezes incompatíveis com a própria vida.
Agora eu....
Dia 7 de Dezembro de 2009, o dia do acidente
Finalmente tinha conseguido tirar um dia de férias no trabalho, o que colado ao feriado do dia 8 de Dezembro iria permitir ter uns dia de descanso, já que estava há vários meses sozinha a fazer o trabalho de 2 pessoas. O fim do ano aproximava-se e ainda tinha para aí uns 10 dias de férias por gozar. Dias sucessivamente adiados em nome do trabalho. Uma vez um médico perguntou-me se eu era uma “workaholic “ só porque não tinha tido tempo para fazer os exames que ele havia prescrito. Às vezes levava trabalho para fazer em casa e naqueles últimos tempos não conseguia tirar férias porque havia sempre coisas… e mais coisas, urgentes. Mal sabia eu que iria ter tanto tempo de “férias forçadas”!
Não sei porquê mas naquele dia fatídico eu não estava bem. Sentia uma angústia, uma tristeza dentro de mim tão grande mas nem sabia explicar o porquê. A vida corria bem, dentro da normalidade, não tinha acontecido nada que me fizesse estar assim, mas não, não estava bem, a tristeza e angustia que sentia faziam-me até esquecer que estava de férias.
Por volta das 14h peguei no carro e lá fui rumo ao ginásio aonde fazia fisioterapia com regularidade. Mal sabia que não voltaria a pegar no meu querido carro. Refiro-me assim a ele porque gostava muito de conduzir e com ele sentia-me livre, podia ir para qualquer lado sem depender de ninguém.
Por volta das 16h o acidente aconteceu: os meus braços quase que foram arrancados na passadeira rolante do ginásio, tal foi a velocidade com que ela arrancou. Já no hospital, percebi pelo rosto fechado dos médicos que era muito grave, mas nunca pensei que pudesse ficar tão incapacitada e para sempre! Eu perguntava a mim mesmo se aquilo que estava a viver não era um sonho. Recordo-me de um enfermeiro simpático que chegou junto de mim e disse-me que infelizmente não estava a sonhar e aconselhou-me a manter a calma. As dores eram monstruosas mas a minha cabeça não parava.
Sou licenciada com Pós-graduação em “Gestão de projectos” e sentia-me plenamente realizada com o que fazia. Havia uma semana tinha estado num Congresso Internacional no Algarve, onde tinha apresentado uma comunicação como oradora e sentia que estava a progredir muito bem na minha carreira.
Naqueles momentos preocupava-me sobretudo o trabalho, os meus estagiários que tinham começado naquela semana, o workshop que eu estava a organizar para daí a 2 dias. Era isso que me preocupava, pois quanto ao resto eu sempre achei que iria recuperar bem.
Depressa me apercebi que as prioridades mudam a cada momento. Passei a ter como prioridade a minha recuperação, a minha determinação e força. Mas também depressa percebi que a coragem e determinação em recuperar ajudam mas não chegam quando a medicina não aponta soluções milagrosas.
Foi muito difícil adaptar-me a viver sem contar com os meus braços e mãos. Estavam lá mas não mexiam. Prometi que sendo assim, se os braços e mãos não mexiam não iria chorar, porque não poderia secar as lágrimas e isso foi o que mais me custou.
No hospital deram-me alta no dia 24 de Dezembro. Foi um Natal triste, lembro-me que os presentes eram colocados no meu colo e ali ficavam. Outras mãos haveriam do os abrir. Foi o primeiro Natal em que literalmente não abri presentes, mas quantos há por esse mundo fora que também não os abrem, nem recebem…
Agora aqui estou, um ano e meio depois com 7 cirurgias a braços e mãos e depois de ter feito uma espécie de périplo pelos melhores hospitais do País (públicos e privados), aqui estou a escrever este meu testemunho com os meus braços e mãos deformados mas a escrever, mais devagar do que dantes mas escrevem.
Sim escrevem, mas não levam a comida à boca, não lavam o rosto, não penteiam, não me vestem, enfim não cuidam de mim. Para isso dependo da vontade, paciência e disponibilidade de outros braços e de outras mãos…

Por Ana Cristina

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