quinta-feira

Garoto com OI aguarda há quatro meses por cirurgia em hospital.

Em meio à crise financeira na Santa Casa de São Paulo e na saúde pública em geral, uma criança de três anos está internada há quase quatro meses à espera de uma cirurgia para proteger seus "ossos de cristal" contra fraturas.
Pedro Henrique Alves Leite precisa receber um implante de hastes de metal. Mas, mesmo com decisões judiciais que obrigam o poder público a arcar com os custos das próteses –cerca de R$ 30 mil–, ele ainda não passou por cirurgia para receber o material. A operação nem sequer tem uma data.
Joel Silva/Folhapress

O garoto Pedro Henrique Alves Leite, 3, com sua mãe, Tereza Cristina, 22. Ele está internado desde dezembro na Santa Casa à espera de próteses de titânio
Enquanto isso, Pedro passa os dias na maca ao lado da mãe, Tereza Cristina Alves Rodrigues, 22, entediado e se queixando que quer voltar para a escola. Ela dorme em uma poltrona em meio a outros internados da ortopedia.
Com uma síndrome rara, a osteogênese imperfeita, que provoca fragilidade extrema nos ossos, ele precisa retirar com urgência a antiga haste que tem na perna esquerda, colocada quando ele tinha dois anos para auxiliar seu crescimento, e colocar um novo material, que será capaz de se estender conforme ele for ficando maior.
"É ele que me dá força para continuar aqui", afirma a mãe do garoto. "Fica dizendo 'não chora. Vão me operar logo, mamãe'. Estou quase enlouquecendo. Só quem passa para vê-lo, bem rápido, de madrugada, são médicos residentes. De vez em quando, dão uma dipirona pra ele."
NA CARNE
Pelos exames de raio x realizados na criança, aos quais a reportagem teve acesso, é possível evidenciar que a antiga haste não mais acompanha o fêmur de Pedro e saiu do prumo, atingindo a carne na altura da cintura.
"Ele não sente dor, graças a Deus, mas tem febres repentinas a cada semana. A medicação que ele deveria tomar para o fortalecimento dos ossos também dizem que está em falta. Ele não toma há meses", conta a mãe.
Tereza se mudou com o marido Daniel Rodrigues Leite, 26, ajudante de pedreiro, de Bom Conselho, no interior de Pernambuco, para Santo André, na Grande São Paulo, apenas para que o filho tivesse acesso a tratamento médico especializado.
"Ele nasceu com umas 30 fraturas. Foi muito dramático no começo. Só depois que começou a receber assistência, aqui em São Paulo, é que as coisas melhoraram. A perna esquerda ele já quebrou sete vezes. Para evitar que tenha problemas também na direita, disseram que vão colocar prótese nela também."
Pedro não recebe alta porque corre risco de infecção e porque há uma decisão judicial para que ele receba atendimento adequado. "Já pedi para mudarem de hospital, para aceitarem que se faça uma vaquinha para comprar as próteses, mas não me dão nenhuma resposta. Também não tenho condições de pagar particular."
Na maior parte do tempo, o garoto fica dentro de uma ala do setor de ortopedia do hospital, junto com outras crianças e suas mães. "De vez em quando, permitem que eu leve ele até o pátio para tomar um solzinho."
CRISE
A Santa Casa de São Paulo passa pela pior crise financeira de sua história e tenta administrar uma dívida de cerca de R$ 800 milhões. Uma série de medidas de saneamento estão em curso, como renegociação de valores, mudanças de gestão e remanejamento de pessoal.
O Ministério Público investiga suspeitas de irregularidades do ex-provedor do hospital Kalil Rocha Abdalla na administração de imóveis da instituição e em contratos de prestação de serviços. Ele nega ter praticado qualquer irregularidade em sua gestão e afirma que apoia as investigações.
Avener Prado - 23.jul.2014/Folhapress

Primeiros pacientes a serem atendidos na Santa Casa, após reabertura; instituição reabre portões após período fechado por falta de condições de atendimento
OUTRO LADO
A Santa Casa de São Paulo se limitou a responder, por meio de nota, que Pedro Henrique Alves Leite tem uma enfermidade que é enquadrada no protocolo de "doenças raras" e que aguarda o envio, pelo SUS, do material necessário para a cirurgia.
De acordo com a nota, o problema de saúde do garoto "faz com que ossos da pessoa sejam diferentes dos da maioria da população. Isto demanda uma cirurgia e o material adequado já foi solicitado junto ao SUS."
O hospital não divulgou previsão de prazo para a chegada das próteses, cirurgia ou alta do garoto. "O paciente segue internado e acompanhado por equipe médica e multiprofissional capacitada a atender suas necessidades."
A instituição não se manifestou sobre as queixas da mãe do garoto em relação a ele não receber nenhum tipo de atenção específica ou medicamento e ser cuidado por médicos residentes. A reportagem questionou o hospital também em relação ao não cumprimento da decisão judicial dentro do prazo estabelecido (20 dias) e sobre os potenciais riscos de infecção hospitalar que corre a criança, mas não teve nenhuma resposta.

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